O que é desenvolvimento sustentável num contexto de pobreza?!!
Numa ocasião anterior, pôs neste mesmo espaço um
artigo com o título “A utopia de
desenvolviment sustentável (Disponível em https://apsaber.blogspot.com/2017/11/a-fantasia-de-desenvolvimento.html).
No referido artigo, questiono Até que ponto um
país em desenvolvimento como Moçambique, tem a capacidade para atingir a
quimera de Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, olhando para as
ambiciosas que são os objectivos de desenvolvimento Sustentável que a
finalidade de tudo segundo os promotores, é promover um mundo universal ou seja
igual para todos mas, para um contexto em que o mundo está diversificado em
diferentes níveis no que tange a desigualdades em todas as vertentes,
económica, social, ambiental etc..
Antes
de mais relembremos o conceito de
desenvolvimento sustentável é “O desenvolvimento que procura satisfazer as
necessidades da geração actual, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem as suas próprias necessidade”. Significa
possibilitar que as pessoas agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de
desenvolvimento social e económico e de realização humana e cultural, fazendo
ao mesmo tempo um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies
e os habitats naturais-Conceito da ONU
Ora, numa perspectiva continuitiva em termos de linha
de análise, inspirado em alguns dados avançados por um estudo intitulado “Análise do sistema florestal em Moçambique” do Tarquinio Magalhães, consusbistanciando
com a realidade prática do quotidiano de Moçambique-rural, volto a questionar a aplicabilidade do princípio de sustentabilidade
num contexto de pobreza para caso de Moçambique, analisando-o na
perspectiva de recursos florestais pois, o 15° Objectivo do Desenvolvimento Sustentável salienta: “Proteger,
recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de
forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter
a degradação da terra e deter a perda da biodiversidade”.
Esse paranovismo do desenvolvimento sustentável, é
sustentado pela Política de Desenvolvimento de Florestas e Fauna Bravia de
Moçambique ao definir de como objectivo geral: “…proteger, conservar, desenvolver e utilizar de forma sustentável os
recursos florestais e faunísticos para o benefício económico, social e
ecológico da actual e futura gerações de moçambicanos…”.
Ora vejamos!
De acordo com a Direcção Nacional de
Florestas, Moçambique é um país, com uma área florestal de aproximadamente 40,6
milhões de hectares e 14,7 milhões de hectares de outras áreas arborizadas.
As florestas produtivas cobrem
aproximadamente 26,9 milhões de hectares, enquanto 13 milhões de hectares são
definidos como áreas não adequadas para a produção de madeira, principalmente onde
estão localizados os Parques Nacionais e as Reservas Florestais.
As florestas que têm algum tipo de
protecção legal ou estado de conservação cobrem cerca de 22% da extensão florestal
total de Moçambique (WRM Bulletin, 2009).
A maioria dos moçambicanos vive em
áreas rurais e depende dos recursos naturais para a sua subsistência diária.
Segundo Nhabanga e Ribeiro (2009), apenas 7 a 9% da população total de Moçambique
tem acesso à electricidade, cabendo à restante população fazer o uso da lenha,
do carvão, petróleo e do gás.
Consequentemente, a colecta de lenha e
a produção de carvão vegetal para efeitos de cozinha e aquecimento representa mais
de 85% do consumo total de energia no país.
Para além de usos com fins energéticos,
a madeira comum e a madeira preciosa também são usadas pelas comunidades na
construção de casas e nas artes e ofícios. Madeiras de todo tipo, incluindo as
de alto valor são usadas pelas comunidades para a construção de casas e para
artesanato, sobretudo esculturas.
Segundo Marzoli (2007), uma das principais
causas do desmatamento no país é a pressão humana que provoca as queimadas das
áreas florestais para abrir áreas de cultivo, colecta de lenha e produção de
carvão. O índice de desmatamento anual no país está na casa dos 219.000 ha/ano.
Conteúdo extraido do estudo intitulado“Análise
do sistema florestal em Moçambique”
de Tarquinio Magalhães
Postos os factos, como pode ser possível um uso
sustentável de rescursos florestais neste contexto?
Aliás, Nhantumbo e Macqueen (2004), já diziam que o
elevado nível de pobreza em Moçambique constitui o principal constrangimento
para a gestão sustentável dos recursos naturais. A fome e a urgência de satisfação
de necessidades básicas não permitem que a comunidade tenha um horizonte de
planificação e uso dos recursos a longo prazo.
O facto é que, ou continuamos numa miragem no
desiderato do desenvolvimento sustentável proposto na Agenda de 2030 ou
assumimos a realidade e definimos de forma adequado tendo em conta a nossa
realidade, o que seria desenvolvimento sustentável.
Impôr uma concepção delimitada sobre desenvolvimento
sustentável para um contexto sócio-económico e cultural como de Moçambique, sem
associa-lá a aspectos factuais tais como crescimento demográfico, corrupção,
situação da pobreza, doenças etc, seria fazer perspectivas utópicas, pois, estaria
desenquadrada com o conteúdo local.
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