A mídia e a construção de uma "sociedade materialista e consumista"

Resumo:


"Vivemos aparentemente na era do respeito pelos direitos humanos mas, por desconhecermos o teatro da nossa mente, não percebemos que jamais esses direitos foram tão violados nas sociedades democráticas... (Cury, 2005)".


O presente artigo de opinião tem por propósito discutir a influência da mídia na construção da sociedade no contexto do mundo globalizado e capitalizado. Parto de uma hipótese de que, a mídia é detentor de um poder influenciador da opinião pública, sobre importantes temas de interesse publico. É "poderosa" na difusão de práticas e comportamentos induzidos pelo capitalismo que de certa forma põem em causa os valorais morais, a cultura de uma sociedade a favor das ditaduras do captalismo.

Palavras Chave: Materialismo, Consumismo, Captalismo


Começaria a indagação, resgatando uma opinião que já trouxe nas redes sociais no formato de uma reflexção aberta, a intenção era provocar uma conversa refletiva e compartilha de ideias sobre o assunto por parte dos internautas. O objectivo acabou por não ser alcançado, infelizmente! Ficou claro que as redes sociais são mais usadas para a difamação, publicação da privacidade, venda do íntimo etc e não para discussão  de idéias úteis à sociedade, enfim, apenas quis dar pincelada ao assunto, pois este não faz parte desta abordagem quem sabe nos próximos.

 Nessa abordagem como veremos no texto que propositadamente voltei a estampar, não no sentido de persuadir as pessoas a lerem, mas sim como uma forma de introduzir e contextualizar a conversa sobre mídia que iniciei em outras abordagens para quem vem acompanhando e lendo as minhas opiniões. Discuto aquilo que eu considero ser os perigos associados à Mídia do Século XXI, influenciador e construtor de opiniões.

Nessa abordagem falo da privação em que o consumidor da informação é colocado no sentido de "bloqueio de manobra" para pensar diferente no que é dito e ouvi, pois, a mídia da actualidade em minha opinião me apoiando em outras que já li, tem um poder que acaba influenciando até quase no subjectivo do indivíduo. Sem mais delongas, eis a reflexão:

"O perigo da mídia do século XXI"
Em algum momento fico perplexo, traído e decepcionado quando vejo as televisõs, rádios e jornais perderem a oportunidade que tem de influenciar positivamente os seus telespectadores ouvintes e leitores.
Já é moda, por exemplo, em Moçambique ouvir, ler e ver, nos blocos informáticos, programas de entretenimentos, debates, publicações etc, pensamentos formatados sobre um determinado assunto.
Para, além disso, passa-se para o consumo público, assuntos de interesse privado, entrevistam pessoas desonradas[1], reproduz e transmite-se imagens, ideias e pensamentos maléficos a sociedade, critica-se excessivamente em busca de audiência, bajulam os políticos e os “suficientemente abastecidos” em busca de oportunidades enfim…, formatam mentes e bloqueiam a oportunidade de pensar diferente.
Será que esse é o papel da mídia?
Como dizem Santos e Silva, (s/d):
"Estamos perante a uma mídia, que se configura como uma poderosa ferramenta formuladora e criadora de opiniões, saberes, normas, e valores. Utilizando-se de manobras estratégicas, a mídia, na maioria das vezes, não dialoga, mas sim unidireciona sua mensagem para o interlocutor, fazendo com que um grande contingente de pessoas aviste o mundo por suas lentes”
Precisamos duvidar e sermos críticos no que lemos, ouvimos e vimos, pois, como referem as mesmas fontes “[…] O poder de manipulação da mídia, resulta num contingente de pessoas que caminham sem opinião própria. Através da televisão, das novelas, jornais e internet, é transmitido um discurso ideológico, criando modelos a serem seguidos e homogeneizando estilos de vida […]”.                                                                                                      
Fim!
Como se pode aperceber, o texto acima posto traz uma discussão centralizada no poder da mídia na construção de ideias e na sua influência sobre a opinião pública.

Focalizado ainda no contexto da mídia, nessa nova perspectiva que a seguir é expressa, discuto a influência desta na construção de uma "sociedade capitalista".

Considero sociedade capitalista aquela que prioriza o bem material, a sua posse como o epicentro da vida. Aquela em que o ser pesa menos que o ter, uma sociedade de mentes consumistas como refere Silva (2014) no seu livro intitulado "Mentes Consumistas...".

O facto é que a sociedade que vai se construindo na actualidade, é uma sociedade não mais guiada de valores morais, princípios de conivência social. Estamos perante uma sociedade que dá mais valor ao materialismo, uma sociedade guiada pela lógica capitalista do mercado e não pelas relações sociais, o que desde a era primitiva guiou o Homem como um animal racional.

Esta nova forma de ser do Homem moderno faz com que os princípios básicos da humanidade, aqueles que nortearam a vida das nossas avós, tios, pais, sejam substituídos, ou seja, postos em causa pelo poder hegemônico do mercado que é excludente.

Hoje o mercado comanda e domina o ser humano e em certas vezes o coloca em conflito com o seu mais próximo devido às bases que lhes sustenta, o poder financeiro que se circunscreve no materialismo.

Na sociedade actual se alguém não tem carro de luxo, não usa perfume mais caro e exclusivo, não tem dinheiro, não usa telefone da última geração, não é digno, é desprezado e mal visto. Esse comportamento cria a descriminação social.

Por isso, quem hoje já foi capturado pelo poder do mercado, luta para ter os bens materiais para melhor se inserir na sociedade capitalista actual. 

Muitas pessoas são capazes de quase tudo para obter coisas materiais, que as façam se sentir poderosas, únicas e/ou celebradas. Em nossos tempos, existem milhares de pessoas que acreditam, verdadeiramente, que o ter vale muito mais que o ser (Silva, 2014).

Esta nova forma de ser moldado pelas regras do capitalismo, baseada no principio de possuir bens materiais, cria uma sociedade discriminatória e egoísta. A inveja, o ódio passa, a dominar o quotidiano da sociedade já que a luta é de ter para não ser rejeitado pela sociedade.

Onde entra a Mídia nisso?

Essa é a pergunta que não faltaria para quem visse o título deste texto. Hora, Num contexto moderno em que o poder da mídia vai se instalando e evidenciado cada vez mais, uma mídia com fortes capacidades influenciadoras, construídora de opiniões, não resta dúvida que tenha certa responsabilidade na construção dessa nova sociedade manipulada pelo poder do capitalismo.

Numa sociedade, por exemplo, Moçambicana em que a maior parte da população é analfabeta, a capacidade analítica perante certa informação, ainda é reduzida, salvo os mais dotados que na maioria habitam nos espaços urbanos.

Este facto faz com que, a fragilidade de ser manipulado pela mídia seja maior na medida em que, se constrói e se solidifica a ideia de que, "se isto passou na televisão, é porque é verdade, é verídico".
Essa forma de pensar, diria que é retardada na medida em que, a mídia da actualidade como referem Santos e Silva (s/d),
[]... é uma arma poderosa vertical e concentrada nas mãos daqueles que controlam o fluxo de informações, “os detentores do saber”; como agente formador de opiniões e criador-reprodutor de cultura, a mídia interfere, forma e transforma a realidade, as motivações, os modos de pensar e de agir do homem.  Comprometida com sua defesa de interesses, no intuito de fabricar a representação social mais convincente, munida de uma condição valorativa, posiciona-se de maneira ideológica, tomando partido daquilo que é mais interessante e lucrativo a seus olhos (Santos e Silva, s/d).


Os pensamentos destes autores chamam-nos atenção a necessidade de percebermos que a mídia actualmente é manipulada pelo poder, político ou económico tendo propósitos de defender determinadas alas detentoras de poder como fiz referencia no texto sobre "Os perigos da mídia do século XXI".

As novas abordagens em que se guia a mídia actual, associado ao seu poder, criadora de opiniões, saberes, normas, valores e subjectividades que se refletem nas ideologias que se incutiram nas pessoas por um lado por esse poder e por outro como resultado dessa fraca capacidade analítica de quem é dirigida a mensagem a transmitida, faz com que, o grau do consumo directo do conteúdo transmitido pela mídia seja cada vez maior.

A par das redes sociais e das novas tecnologias no global, é na mídia onde passam informações supostas de como vestir se bem, ter corpo ideal, ser elegante numa verdadeira ditadura. É por aqui onde a ambição se constrói. A ambição de comprar novos vestidos chamados modelos ou exclusivos vistos nas novelas, nas redes sociais.

Não necessariamente que isso seja errado, afinal de contas, na vida vivemos todo tipo de emoções. O errado é passar a valorizar os outros pelo o que tem, e não pelo o que são, é criar amizade falsa pelo materialismo e não verdadeiro pelo sentimento. É dar valor a vida a partir de bens materiais e não pelo amor ao próximo.

É preciso reconhecer que existem coisas que jamais poderão ser adquiridas, pois dependem da subjectividade e da personalidade de cada um, inteligência, sabedoria, auto-estima, talento pessoal, respeito e amor, realmente isso não têm preço (Silva, 2014).

A cultura consumista e individualista está tão profundamente enraizada em nosso comportamento diário que, na maioria das vezes, não percebemos o quanto vivemos sob a ditadura do ter (Silva, 2014).

Sou da opinião que devemos evitar viver nessa ditadura, pois ela é excludente e egoísta. Somos seres humanos e racionais, pois os valores morais acima mencionados entre outros, são os que nos caracterizam, nos dão valor a vida e nos diferem dos outros animais.

A passividade no consumo da informação muitas vezes passada pela mídia via publicidade, novelas etc e certamente, a partir de outras plataformas de transmissão de informação, sem sombra de dúvida se não formos firmes na distinção entre o bem e o mal, nos tornará frágeis a ditadura do capitalismo caracterizado pelo consumismo e consequente valorização dos bens materiais em detrimentos dos valores morais que devem nos nortear como humanos.
A ditadura do capitalismo vinculada pela mídia e redes sociais, pelo seu poder torna as pessoas obcecadas pelo materialismo tornando-as incapazes de questionar, criticar.
A informação é transformada em mercadoria. As propagandas de bebidas e cigarros,exemplificando, unificam a juventude, beleza, aventura e riqueza, envolvidas em uma prática desportiva, apresentando sempre uma imagem do atleta vencedor. A mídia veicula e reforça a cultura, nos tempos actuais, de uma ética “indolor”, de desvalorização do outro, que celebra a gratificação imediata de desejos e pulsões (Silva e Santos, s/d).

August Cury, numa das abordagens da sua obra intitulada " A ditadura da Beleza e a revolução das mulheres", sobretudo das mulheres, diz que,
[...] Duvidem de tudo aquilo que os controla, duvidem do sistema que impõe um padrão de beleza. A crítica é o princípio da sabedoria... Critiquem a passividade do eu, a ditadura da imagem, gerenciem seus pensamentos. Determinem estrategicamente que serão atrizes ou atores principais do teatro da sua mente (Cury, 2005).

Assim sendo, não há dúvida que, a característica principal da sociedade actual produzida pela ditadura do capitalista, é a valorização da posse de bens materias, o estar elegante, o vestir coisas caras e exclusivas, uma sociedade controlada pelo consumismo.
Na verdade estamos numa sociedade guiada pelo ter e já não mais pelo ser, como refere Silva (2014).
[...] Enquanto a sociedade alicerçada no ser prioriza as pessoas, a embasada no ter tem como prioridade coisas que podem ser compradas por valores determinados pelo mercado. Infelizmente, a sociedade em que vivemos tem como senso comum vigente o modo ter de estabelecer suas regras e seus valores.  Por essa razão, podemos denominá-la de sociedade consumista ou sociedade de produtos. Nesse contexto social, é necessário possuir tudo que seja capaz de gerar prazer de forma intensa e imediata em shows ou mesmo um passeio à Lua em um ônibus espacial (Silva, 2014).

Cabe a nós, decidirmos o que é bem pra nós ou nos deixarmos ser conduzidos pela ditadura do materialismo como produto do poder do captalismo em que impera mais o ter ou darmos mais valor aquilo que mais nos indetifica como humanos, o nosso ser.
Como sugere August Cury: "Precisamos deixar ao menos o vestígio de que não fomos escravos do sistema social, de que vivemos uma existência digna e saudável, lutando contra uma sociedade que se tornou uma fábrica de pessoas doentes e insatisfeitas. É necessário fazer uma revolução inteligente e serena".[2]

Consumir é preciso para viver, mas viver para consumir pode ser uma das maneiras mais eficazes de transformar a vida em uma morte existencial. E quando isso acontece, deixamos de viver em um porto seguro de paz e necessidades satisfeitas para nos lançarmos em um mar revolto, em que ondas de dívidas, remorsos e desesperos passam a tomar de assalto nossas vivências mais básicas (Silva, 2014).


Referências Bibliográficas

§  CURY, August (2005). A ditadura da Beleza e a revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
§  SILVA, Ellen Fernanda Gomes da; SANTOS, Suely Emilia de Barros (S/d). O impacto e a influência da mídia sobre a produção da subjetividade. Faculdade do Vale do Ipojuca
§  SILVA, Ana Beatriz Mendoca (2014). Mentes consumistas: Do Consumo a compulsao de compras. 1ª Edição, São Paulo.




[1] Aquelas pessoas que considero mau exemplo para a sociedade  pelo seu historial etc
[2] Um extrato da Obra "A ditadura da Beleza e a revolução das mulheres"

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